Ouro tem maior queda em 12 anos e prata despenca após rali histórico
Entenda o que causou o tombo dos metais preciosos e o que isso significa para os investidores

Nos últimos meses, o mercado de metais preciosos vinha chamando atenção com uma escalada impressionante. O ouro, símbolo de segurança e reserva de valor em tempos de incerteza, registrava altas consecutivas e alcançava recordes históricos. A prata, impulsionada pelo mesmo sentimento de proteção e pela forte demanda industrial, acompanhava o ritmo. No entanto, o cenário mudou bruscamente. Nesta terça-feira, o ouro teve sua maior queda em 12 anos, e a prata despencou 8,7%, encerrando um dos períodos de maior volatilidade da década.
O movimento surpreendeu investidores e analistas. Após semanas de valorização intensa, as realizações de lucro tomaram conta do mercado. O ouro à vista chegou a cair 6,3%, sendo negociado a US$ 4.082,03 por onça, enquanto a prata recuou para US$ 47,89. A queda foi atribuída a uma combinação de fatores: fortalecimento do dólar, melhora no humor do mercado global, avanços nas negociações entre Estados Unidos e China e uma redução momentânea da demanda por ativos de proteção.
Apesar da forte correção, muitos especialistas afirmam que esse tipo de movimento é natural após um rali expressivo. O ouro acumulava nove semanas consecutivas de ganhos, o que, em termos técnicos, já sinalizava uma sobrecompra no mercado. Para alguns analistas, a queda pode representar uma pausa saudável em um ciclo de alta mais longo, e não o fim da valorização.
Por que o ouro e a prata caíram tão forte?
O ouro é considerado um ativo de refúgio, ou seja, tende a se valorizar quando há instabilidade política, inflação alta ou riscos econômicos. Quando o mercado volta a ganhar confiança, investidores geralmente reduzem posições em ouro e buscam aplicações mais rentáveis, como ações e títulos.
Neste momento, três fatores explicam a forte correção dos preços:
- Fortalecimento do dólar americano
O dólar subiu de forma consistente nas últimas semanas, impulsionado por dados econômicos positivos dos Estados Unidos e pela expectativa de manutenção das taxas de juros em patamares elevados. Como o ouro é cotado em dólar, um aumento na moeda americana tende a reduzir o interesse de investidores estrangeiros, tornando o metal mais caro em suas moedas locais. - Melhora nas negociações comerciais entre EUA e China
O clima de otimismo em torno de um possível acordo entre Washington e Pequim diminuiu o apetite por ativos de proteção. A expectativa de que o presidente americano Donald Trump e o líder chinês Xi Jinping possam se encontrar para resolver pendências comerciais trouxe certo alívio aos mercados globais. - Movimento técnico e realização de lucros
Após semanas de alta, muitos investidores aproveitaram o momento para vender parte de suas posições e garantir lucros. O chamado “rali” deixou os preços acima da média histórica e com indicadores técnicos sinalizando sobrecompra. Assim, qualquer notícia positiva no mercado global acabou servindo de gatilho para uma correção mais intensa.
Um cenário de volatilidade crescente
O ambiente atual é marcado por forte volatilidade nos mercados financeiros. Além da incerteza sobre os rumos da economia global, os investidores enfrentam fatores políticos e fiscais que afetam diretamente o comportamento dos preços dos ativos.
Nos Estados Unidos, a paralisação parcial do governo (shutdown) gerou dúvidas sobre a divulgação de relatórios econômicos importantes. Um desses relatórios, produzido pela Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC), mostra o posicionamento de grandes fundos e investidores institucionais no mercado de ouro e prata. Sem essas informações, o mercado ficou “no escuro”, o que aumentou o risco de posições especulativas exageradas.
Segundo Ole Hansen, estrategista de commodities do Saxo Bank, a ausência de dados de posicionamento cria um terreno fértil para volatilidade:
“A falta de transparência ocorre em um momento delicado, com possível acúmulo de posições compradas especulativas em ambos os metais. Isso os torna mais vulneráveis a correções rápidas.”
Além disso, o volume de negociações em opções vinculadas ao maior ETF de ouro do mundo atingiu níveis recordes nos últimos dias. Foram mais de 2 milhões de contratos negociados em apenas duas sessões, sinalizando que muitos investidores estavam se posicionando para proteger ganhos recentes, ou até mesmo lucrar com a queda.
Um tombo dentro de um ciclo de alta
Apesar do tombo histórico, o movimento não necessariamente indica o fim da tendência de valorização dos metais preciosos. Desde o início do ano, o ouro vinha acumulando fortes ganhos, sustentados por fatores estruturais como inflação persistente, juros reais negativos em diversas economias e incertezas geopolíticas.
Os investimentos em ouro via ETFs continuaram crescendo ao longo dos últimos meses, e as reservas de bancos centrais em todo o mundo também aumentaram, principalmente na Ásia. Isso mostra que, apesar da correção recente, o ouro segue sendo visto como um ativo estratégico de longo prazo.
A prata, por sua vez, vinha apresentando uma performance ainda mais agressiva. Em 2025, o metal chegou a acumular alta próxima de 80%, impulsionada tanto pela demanda industrial quanto pelo efeito colateral do rali do ouro. A correção atual, portanto, reflete um ajuste natural de mercado após um período de forte euforia.
Impacto no mercado internacional e nas bolsas
O recuo do ouro e da prata também teve reflexos diretos nas bolsas de valores. Empresas de mineração e fundos de commodities viram seus papéis sofrerem ajustes. Índices setoriais ligados a metais preciosos recuaram fortemente na Ásia, Europa e América do Norte.
Nos Estados Unidos, o principal fundo de ouro negociado em bolsa (ETF) perdeu parte do valor de mercado após semanas de valorização. Já na Bolsa de Londres, o mercado de metais registrou oscilações históricas, com a prata física sendo enviada para o Reino Unido em grandes volumes para compensar uma escassez momentânea.
Segundo especialistas, o movimento de curto prazo reflete reajustes técnicos e mudanças de fluxo, e não uma reversão estrutural. O ouro segue sendo um ativo amplamente utilizado como proteção em portfólios de longo prazo.
O papel do ouro e da prata na economia moderna

O ouro e a prata sempre tiveram um papel central na história econômica. O ouro é símbolo de poder e estabilidade desde os tempos antigos, utilizado como moeda, padrão monetário e reserva de valor. Já a prata, além de servir como ativo financeiro, tem grande importância industrial, sendo usada em painéis solares, eletrônicos, baterias e equipamentos médicos.
Quando o mundo enfrenta crises financeiras, conflitos geopolíticos ou inflação elevada, os investidores recorrem ao ouro e à prata como forma de proteger patrimônio. Esses metais não rendem juros, mas preservam valor em cenários de incerteza. Por isso, sempre que há sinais de desaceleração econômica ou tensões internacionais, a procura por ouro e prata tende a crescer.
Entretanto, quando a economia global mostra recuperação, os investidores buscam ativos de maior risco, como ações e títulos corporativos, reduzindo o interesse pelos metais preciosos. Foi exatamente o que ocorreu neste episódio: com o otimismo sobre um acordo comercial e o fortalecimento do dólar, parte do capital migrou para outros mercados.
O que a queda significa para o investidor
Para o investidor de longo prazo, essa forte correção não deve ser encarada com pânico, mas com análise estratégica. Historicamente, o ouro e a prata passam por períodos cíclicos de valorização e correção. Esses movimentos costumam refletir ajustes naturais de preço, e muitas vezes representam boas oportunidades de compra para quem acredita na tendência de longo prazo.
Especialistas em finanças pessoais costumam recomendar que uma pequena parcela do portfólio, entre 5% e 10%, seja alocada em ativos de proteção, como ouro ou fundos lastreados em metais preciosos. Essa estratégia ajuda a reduzir a volatilidade da carteira e oferece segurança em momentos de crise.
Para o investidor brasileiro, é possível investir em ouro e prata de diversas formas:
- Fundos de investimento em ouro (disponíveis em corretoras e bancos);
- ETFs internacionais que acompanham o preço dos metais;
- Certificados de operações estruturadas (COEs) com exposição a commodities;
- Ou até mesmo compra física, por meio de barras e moedas vendidas por instituições autorizadas.
Efeito no mercado brasileiro
No Brasil, o impacto da queda internacional do ouro foi sentido principalmente nas cotações locais e nos fundos de commodities. O preço do ouro em reais, no entanto, foi parcialmente compensado pela valorização do dólar. Assim, o tombo global não se refletiu de forma tão intensa no mercado interno.
Ainda assim, o movimento despertou atenção entre investidores que vinham apostando na continuidade da alta. Nos últimos anos, o ouro se consolidou como uma das principais formas de proteção contra a inflação e as oscilações cambiais.
Com a desaceleração dos preços, o mercado volta a se ajustar. Analistas afirmam que o Brasil tende a seguir o comportamento internacional, mas com menor volatilidade, devido à influência cambial e às condições locais.
Perspectivas para os próximos meses
Os próximos meses serão decisivos para determinar se a recente queda representa apenas uma correção técnica ou o início de uma nova fase de preços mais baixos. Tudo dependerá de fatores como:
- Política monetária dos Estados Unidos: se o Federal Reserve mantiver juros altos por mais tempo, o dólar pode continuar forte, pressionando o ouro;
- Crescimento global: uma desaceleração na China ou na Europa pode reacender o interesse por metais de proteção;
- Inflação: se voltar a subir, pode impulsionar novamente o apetite por ouro;
- Geopolítica: qualquer tensão internacional — seja na Ásia, no Oriente Médio ou em eleições — tende a favorecer os metais preciosos.
Conclusão: correção natural em um ciclo de alta
O tombo histórico do ouro e da prata assusta em um primeiro momento, mas faz parte da natureza dos mercados. Após semanas de valorização intensa e recordes sucessivos, era esperado que uma correção ocorresse. O fortalecimento do dólar, o otimismo com o comércio global e o reposicionamento de grandes fundos apenas aceleraram esse processo.
Para o investidor consciente, o episódio serve como lembrete de que volatilidade é inerente aos mercados financeiros. O ouro continua sendo uma ferramenta importante de proteção, e a prata mantém seu valor estratégico tanto como ativo financeiro quanto como insumo industrial.
