Bebidas falsificadas no Brasil

Bebidas falsificadas no Brasil representam menos de 5%, aponta estudo

bebidas falsificadas é inferior a 5%, mas o mercado ilegal ainda preocupa especialistas e autoridades

Bebidas falsificadas no Brasil

Bebidas falsificadas no Brasil: Circulam amplamente nas redes sociais publicações afirmando que 30% das bebidas destiladas vendidas no Brasil são falsificadas. A alegação, atribuída à Associação Brasileira de Bebidas Destiladas (ABBD), viralizou em grupos e páginas que discutem segurança alimentar e consumo responsável.
Contudo, a informação é enganosa. Um estudo recente conduzido pela Euromonitor International, a pedido da própria ABBD, mostra que o número de bebidas falsificadas no país é inferior a 5%, embora o mercado ilegal como um todo represente cerca de 28% do total de destilados comercializados no Brasil.

A confusão, segundo a ABBD, ocorre pela interpretação equivocada dos dados. O levantamento aponta que dentro dos 28% de bebidas ilegais, estão incluídos diversos tipos de irregularidades, como contrabando, descaminho, produção sem registro e evasão fiscal — não apenas falsificação.

“A falsificação representa 1,1% do mercado total de bebidas alcoólicas e 4,7% do mercado de destilados”, explicou a entidade em nota oficial.
“A diferença é expressiva, e confundir os números pode gerar pânico desnecessário entre consumidores e prejuízos à indústria nacional.”


Entenda a diferença entre bebidas ilegais e falsificadas

O mercado ilegal de bebidas no Brasil é amplo e complexo. Ele inclui todas as práticas que ocorrem fora do controle fiscal e sanitário, mas nem todas configuram falsificação.
De forma geral, a bebida falsificada é aquela que imita uma marca original, utilizando rótulos, garrafas e tampas idênticas, mas contém um líquido adulterado ou impróprio para consumo.

Já o contrabando e o descaminho dizem respeito à importação irregular de bebidas legítimas, vendidas sem o pagamento de impostos.
Há também a produção clandestina, que envolve destilarias que funcionam sem registro no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), burlando as exigências de controle de qualidade.

Essa diferenciação é essencial para compreender o problema e direcionar as medidas de combate adequadas.

“A falsificação é apenas uma das faces do mercado ilegal. No entanto, é a que mais ameaça a saúde pública, pois envolve substâncias perigosas, como o metanol”, reforça João Garcia, gerente de consultoria da Euromonitor International.


O estudo da ABBD e Euromonitor

O levantamento, divulgado em 26 de setembro de 2025, envolveu uma pesquisa de campo entre abril e junho do mesmo ano.
Os pesquisadores visitaram 30 lojas físicas em cinco capitais brasileiras, além de quatro grandes marketplaces online, analisando mais de 1.200 produtos.
Também foram entrevistadas 37 organizações e empresas do setor, incluindo órgãos governamentais, importadores, fabricantes e especialistas em fiscalização.

A pesquisa revisou ainda mais de 50 fontes secundárias, entre relatórios de apreensão, balanços aduaneiros, registros de importação legal e dados de saúde pública relacionados ao consumo de álcool adulterado.

De acordo com o relatório, o mercado de bebidas ilegais movimenta bilhões de reais por ano, provocando perdas tributárias estimadas em mais de R$ 8 bilhões e prejuízos à indústria formal, que enfrenta concorrência desleal.


Por que a falsificação preocupa tanto

Apesar de representar menos de 5% do total de destilados vendidos no Brasil, a falsificação é considerada o crime mais grave dentro do mercado ilegal, por colocar em risco a vida dos consumidores.

O principal motivo é o uso de álcool impróprio para consumo humano, como o metanol — substância altamente tóxica, utilizada em solventes e combustíveis.
O metanol, quando ingerido, pode causar cegueira, falência de órgãos e até a morte.

O relatório da Euromonitor detalha que os falsificadores utilizam duas principais estratégias:

  1. Refil de garrafas originais – garrafas e rótulos de marcas conhecidas são reutilizados, preenchidos com líquidos adulterados.
  2. Uso de álcool industrial – bebidas são produzidas com metanol ou etanol não tratado, reduzindo custos e elevando margens de lucro ilícito.

Essas práticas são vantajosas para as redes criminosas, pois o produto falsificado é vendido até 48% mais barato que o original em sites e redes sociais.
O baixo preço, aliado à dificuldade de fiscalização, favorece a expansão desse mercado paralelo.


Impactos econômicos e sociais

O mercado ilegal de bebidas, especialmente de bebidas falsificadas, tem impacto direto na economia, no emprego e na saúde pública.
De acordo com a ABBD, o setor formal emprega mais de 400 mil pessoas em todo o país, e a concorrência desleal das falsificadas e contrabandeadas compromete investimentos e arrecadação fiscal.

Além disso, o consumo de bebidas adulteradas gera custos significativos ao sistema de saúde, devido aos casos de intoxicação e internações.
O Ministério da Saúde confirmou, até 13 de outubro de 2025, 32 casos de intoxicação por metanol, com cinco mortes.
Outros 181 casos suspeitos estão sob investigação em diferentes estados.

Esses números reacenderam o alerta sobre a necessidade de reforçar a fiscalização e a conscientização do público sobre os riscos de comprar bebidas em locais não autorizados.


Ações do governo e das autoridades

No último dia 8 de outubro, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), vinculada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, notificou nove plataformas de e-commerce.
O objetivo foi obrigar as empresas a suspenderem a venda de insumos utilizados na falsificação, como garrafas, lacres, rótulos e tampas.

A medida faz parte de uma força-tarefa nacional que busca desarticular as cadeias de suprimento das bebidas adulteradas.
Além disso, a Polícia Federal intensificou operações em regiões fronteiriças e centros de distribuição suspeitos.

“Estamos lidando com redes sofisticadas, que se adaptam rapidamente. Por isso, a cooperação entre plataformas, fabricantes e o poder público é essencial”, afirmou um porta-voz da Senacon.


Como identificar bebidas falsificadas

A ABBD recomenda que os consumidores verifiquem sempre o lacre, o rótulo e o número do selo fiscal antes da compra.
Produtos falsificados costumam apresentar falhas de impressão, rótulos desalinhados ou tampas reutilizadas.

Outras dicas incluem:

  • Comprar apenas em lojas e distribuidores autorizados;
  • Evitar ofertas com preços muito abaixo do mercado;
  • Consultar o QR Code dos selos do IPI, que levam ao site do Mapa;
  • Desconfiar de bebidas vendidas em embalagens diferentes do padrão.

Essas práticas simples ajudam a proteger o consumidor e dificultam a ação dos falsificadores.


Um problema global

A falsificação de bebidas não é exclusividade do Brasil.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que um em cada quatro litros de bebidas alcoólicas consumidos no mundo é de origem ilegal.
Em países da África e do Leste Europeu, o número é ainda maior, ultrapassando 40% em alguns mercados.

O comércio digital e o avanço das redes criminosas transnacionais tornam a fiscalização ainda mais complexa.
Relatórios da Interpol e da Europol mostram que o tráfico de bebidas falsificadas muitas vezes se mistura com o de drogas, cigarros e armas, utilizando as mesmas rotas e estratégias de ocultação.

A ABBD tem buscado parcerias internacionais para fortalecer o combate à falsificação, compartilhando dados com autoridades da União Europeia, Reino Unido e Estados Unidos.


Desinformação nas redes sociais

O caso das postagens falsas sobre “30% de bebidas falsificadas” evidencia como a desinformação digital pode distorcer dados e comprometer a credibilidade de estudos sérios.
De acordo com a plataforma Estadão Verifica, a notícia viralizou em mais de 15 mil compartilhamentos no X (antigo Twitter), Facebook e WhatsApp.

A própria ABBD se pronunciou publicamente, explicando a diferença entre o mercado ilegal e o falsificado.
O objetivo é evitar que informações incorretas alimentem o pânico e prejudiquem produtores honestos.

“Nosso compromisso é com a transparência e com a educação do consumidor”, declarou a associação.
“A desinformação é tão nociva quanto a falsificação, pois corrói a confiança no setor.”


Outros levantamentos reforçam o alerta

Além do estudo da ABBD, a Federação dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Estado de São Paulo (Fhoresp) divulgou, em abril de 2025, outro levantamento.
A pesquisa apontou que 36% das bebidas comercializadas no país apresentam algum tipo de irregularidade — o que inclui contrabando, adulteração, sonegação fiscal ou falsificação.

No entanto, a própria Fhoresp destacou que o foco do estudo não foi a adulteração por metanol, e que os números são aproximados devido à dificuldade de mapear o mercado clandestino.
Os dados foram obtidos com base em entrevistas com 20 sindicatos patronais, empresas de hospitalidade e entidades de fiscalização.


Parceria entre imprensa e indústria

O conteúdo publicado pela ABBD e pelo Estadão Verifica é parte de uma iniciativa conjunta para combater a desinformação e reforçar o papel do jornalismo profissional no esclarecimento de dados sobre o setor de bebidas.

A parceria busca não apenas desmentir boatos, mas também educar o público sobre os riscos do consumo de bebidas falsificadas, e os impactos econômicos e sanitários do mercado ilegal.

“É essencial que o consumidor tenha acesso a informações corretas e verifique a origem das notícias antes de compartilhar”, diz a nota conjunta.


Conclusão

Embora o número de bebidas falsificadas no Brasil seja inferior a 5%, o problema continua relevante e perigoso.
A desinformação amplifica o medo e mascara o verdadeiro desafio: combater todas as formas de ilegalidade, incluindo sonegação, contrabando e produção clandestina.

O caminho, segundo especialistas, passa pela educação do consumidor, parcerias público-privadas e uso de tecnologia para rastrear produtos e impedir a circulação de itens falsificados.

Em um país com dimensões continentais como o Brasil, a vigilância e a conscientização são as armas mais eficazes para proteger vidas, fortalecer a indústria e garantir um mercado de bebidas mais justo e seguro.

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