Turistas brasileiros nos EUA: queda em 2025 revela mudança no turismo e impacto no seguro-viagem
O número de turistas brasileiros nos EUA caiu em 2025, revelando uma mudança nas preferências de viagem e no mercado de seguro-viagem. Entenda os motivos, os novos destinos em alta e como isso afeta o bolso e o setor de turismo internacional.
Menos turistas brasileiros nos EUA em 2025: o que está acontecendo?

O fluxo de turistas brasileiros nos EUA vem apresentando sinais claros de desaceleração.
De acordo com dados do Escritório Nacional de Viagens e Turismo (NTTO), os Estados Unidos receberam 32,52 milhões de viajantes internacionais entre janeiro e julho de 2025 — uma queda de 19,5% em relação ao mesmo período de 2024.
O número inclui visitantes de todo o mundo, mas o Brasil tem um papel importante nesse recuo.
Segundo levantamento da Coris, empresa especializada em assistência e seguro-viagem, as contratações de seguros para destinos americanos caíram 10% no mesmo período.
Essa redução não significa que os brasileiros deixaram de viajar. Pelo contrário — as viagens internacionais continuam em alta, mas os destinos preferidos mudaram.
Se antes cidades como Miami, Orlando e Nova York eram praticamente uma escolha automática, hoje o interesse migra para Lisboa, Roma, Buenos Aires e Santiago.
As causas da queda: dólar caro, burocracia e incertezas
De acordo com Luiz Gustavo da Costa, CEO da Coris, a decisão de evitar os Estados Unidos está diretamente ligada a três fatores principais:
- Alta do dólar – Com o câmbio girando em torno de R$ 5,30, os custos de hospedagem, alimentação e lazer nos EUA se tornaram proibitivos para a classe média brasileira.
- Burocracia no visto americano – O tempo de espera para emissão ou renovação de vistos aumentou, além das frequentes mudanças nas exigências do consulado.
- Instabilidade política internacional – A percepção de incerteza quanto à segurança, políticas migratórias e relações internacionais faz muitos optarem por destinos mais previsíveis.
“Questões burocráticas e a instabilidade política pesam na decisão, e isso redesenha toda a cadeia do turismo, do aéreo ao seguro”, explica Costa.
Seguro-viagem reflete a nova realidade
A queda na procura por seguro-viagem para os EUA é um reflexo direto dessa mudança de comportamento.
As seguradoras relatam aumento nas apólices contratadas para destinos europeus e latino-americanos — regiões que, além de estarem mais baratas, exigem menor burocracia.
Guilherme Wroclawski, CEO da Hero Seguros, reforça que o cenário atual exige uma readequação do setor:
“Existe uma mistura de informações econômicas e políticas sobre os EUA que faz o brasileiro temer o risco. Ninguém quer investir em algo incerto — especialmente quando envolve a possibilidade de não conseguir entrar no país.”
Além disso, o custo médio de sinistros nos Estados Unidos é muito mais alto devido ao preço da medicina local. Isso torna o seguro-viagem para o país um dos mais caros do mundo, o que também afasta consumidores.
Restrição de vistos e o impacto estudantil
Medidas recentes do governo americano, incluindo novas restrições à entrada de estudantes estrangeiros, também colaboraram para o cenário.
De acordo com fontes do setor, cerca de 7 mil estudantes brasileiros foram afetados por mudanças em regras de vistos, levando famílias a reconsiderarem o envio de jovens para universidades nos Estados Unidos.
O reflexo é duplo: menos viagens de longo prazo e mais investimentos em educação na Europa e Canadá, onde as exigências são menores e o custo de vida é mais previsível.
Turistas recalculam a rota: Europa e América Latina ganham espaço
O turismo internacional não diminuiu, apenas mudou de direção.
A América Latina vem se consolidando como o principal destino dos brasileiros, especialmente Argentina e Chile, que registraram forte movimento durante a temporada de neve.
“O turismo não para de crescer. O que houve foi uma nova escolha de destino. A gente vê bastante movimento para a América Latina e Europa, que continua em alta”, comenta Wroclawski.
Segundo dados da Coris, a procura por seguros para a América Latina aumentou 5% em relação a 2024.
A Europa, por sua vez, segue entre as favoritas, com Portugal e Itália liderando o ranking.
Gustavo Hoffmann, diretor da SKEMA Business School, explica:
“Cria-se um ambiente em que as pessoas se perguntam se são bem-vindas. Essa dúvida é suficiente para que procurem outras alternativas.”
Efeito colateral positivo: sinistralidade menor
Embora a queda no fluxo de turistas brasileiros nos EUA preocupe agências e operadoras, ela traz um efeito colateral interessante: a redução da sinistralidade no setor de seguros.
Como o custo médico nos Estados Unidos é o mais alto do mundo, cada sinistro gera grandes despesas para as seguradoras.
Com menos brasileiros viajando para lá, o custo médio por acionamento tende a cair — o que pode beneficiar tanto as empresas quanto os consumidores.
“Com a diminuição da demanda para os EUA, o custo médio dos sinistros cai e os preços dos seguros podem melhorar para o consumidor”, explica Wroclawski.
Quanto custa um seguro-viagem em 2025?
De acordo com simulação da Hero Seguros, os valores médios diários para 2025 são:
- Brasil: R$ 5,88 por dia
- América Latina: R$ 24,68 por dia
- Europa, Ásia, África e Oceania: R$ 24,68 por dia
- EUA e Canadá: R$ 42,31 por dia
A diferença é explicada pelo alto custo da medicina norte-americana.
Uma simples internação hospitalar pode custar dezenas de milhares de dólares, mesmo para procedimentos simples.
“A maior parte dos sinistros em seguro-viagem está relacionada à saúde. Nos EUA, o custo médico é tão elevado que multiplica o valor do seguro”, comenta Wroclawski.
Seguros personalizados: tendência que veio para ficar
A personalização tornou-se um dos diferenciais do setor.
Hoje, seguradoras oferecem planos sob medida para diferentes perfis, incluindo:
- Famílias com crianças
- Estudantes em intercâmbio
- Viajantes LGBTQIA+
- Amantes da neve e do mergulho
- Executivos e viajantes frequentes
Entre as coberturas adicionais mais procuradas estão:
- Atraso de voo
- Perda de bagagem
- Cancelamento de viagem
- Reembolso de aulas de esqui
- Assistência jurídica
- Telepsicologia
- Cobertura contra chuva
Essas opções tornam o seguro-viagem mais acessível e adaptado à realidade de cada tipo de viajante.
Como o cenário de 2025 afeta o turismo global
A diminuição de turistas brasileiros nos EUA também impacta companhias aéreas, operadoras de câmbio e redes hoteleiras.
A Flórida, por exemplo, tradicionalmente recebe grande parte dos visitantes brasileiros, e a queda no fluxo já preocupa lojistas locais.
Por outro lado, destinos como Portugal e Espanha relatam aumento recorde de turistas brasileiros, impulsionando economias locais e fortalecendo laços culturais.
Essa redistribuição global de turistas cria novos polos de crescimento e estimula a diversificação do setor de viagens.
Conclusão: o novo mapa do turismo brasileiro
O recuo dos turistas brasileiros nos EUA em 2025 não representa uma retração do setor, mas sim uma mudança estrutural nas escolhas de viagem.
Com dólar alto, burocracia crescente e instabilidade internacional, os brasileiros estão explorando novos destinos — e as seguradoras estão se adaptando rapidamente.
O cenário, embora desafiador, abre oportunidades para empresas que apostarem em personalização, tecnologia e transparência nas apólices.
“Enquanto a volatilidade persistir, os brasileiros continuarão escolhendo destinos que ofereçam mais previsibilidade e custo-benefício”, conclui Wroclawski.
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